Favela, 1958
óleo sobre tela, 60x80 cm
Publicado originalmente no Jornal Copacabana, edição de Novembro de 2014
Como
tantos brasileiros, ele fez da antiga capital seu lar. Na década de
1950, recém-chegado de Fortaleza, reclamava do Rio
que às vezes de tão agitado se torna monótono. Pouco
depois, completamente apaixonado por nosso
bairro, confessava: Eu
gosto é dali!
O
temperamento reservado não o afastava da convivência com o público
nem do cultivo de amizades, que eram muitas. Morou na Rua Bolívar
129 e na Avenida Copacabana 1032. Expunha na galeria de arte do IBEU,
além de inúmeras outras galerias e museus do Brasil e do mundo. A
admiração angariada o levou também a ser tema de um
curta-metragem.
Esse homem
que um dia fincou raízes entre nós é Antonio Bandeira, um dos
maiores pintores abstratos brasileiros, cuja obra volta aos poucos a
receber o destaque merecido.
Bandeira
veio aos 22 anos fazer a vida no Rio de Janeiro e com o talento logo
conquistou apoio financeiro para estudar em Paris. Lá descobriu que
não se adaptava ao ensino sistemático. Passou dificuldades.
Procurou então artistas independentes como ele e, para o espanto de
todos, deixou para trás o interesse pelos temas brasileiros, pela
pintura de Portinari e Di Cavalcanti. Aderiu à abstração e participou, assim, da renovação de nossa arte.
De volta ao
Brasil e respeitado como artista maduro, dividia o coração entre a
cidade natal e o Rio. Fez capas para livros de Rubem Braga e também
de Drummond, de quem recebeu a dedicatória de um poema. Associado ao
florescimento cultural do país, era lembrado como expoente de uma
nação jovem, moderna, que se abria para o mundo.
Essa é a
pintura de Bandeira: de linguagem universal e atenta à sua época,
modesta em tamanho e ousada em conteúdo, abstrata e aberta à
imaginação de quem a contempla.
Com o Golpe
de 64, o artista fez as malas. Desembarcou em Paris. Bem estabelecido
e no auge da carreira, em 1967 achou que havia chegado a hora de
operar os pólipos que tanto lhe atrapalhavam a fala. Uma reação à
anestesia pôs fim a essa trajetória. A morte precoce aos 45 anos e
as mudanças da arte deixaram sua fama em repouso, até que
ressurgisse o interesse por sua obra.
Antonio
Bandeira foi mais um ilustre morador de Copacabana, bairro lar da
arte e cultura.