sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aberturas e Marchas de Richard Wagner

Orquestra Filarmônica de Hong Kong
Regente - Varujan Kojian

     As Aberturas registradas neste Cd oferecem tudo o que o ouvinte espera de obras do gênero: efeitos de cores, abuso de metais, rufar de percussão, crescendos e, claro, um gran finale. Mas não encontramos aqui nenhum sinal da instigante veneração Wagneriana à Arte nem estamos diante do fluxo contínuo de idéias que costumamos ouvir em suas óperas. Mesmo sem representar o ponto alto de uma produção inovadora, estas são composições elegantes e de partitura bem trabalhada, pontuadas levemente pelos idílios do gênio.
          A Marcha do Centenário Americano é a mais interessante da gravação. Durante a alvorada econômica dos Estados Unidos estabeleciam-se orquestras, surgiam escolas de música e toda a criação artística era estimulada pela busca de refinamento cultural. Artistas como Thalberg, Grieg e Tchaikovsky recebiam convites do continente. Dvorak acabou seduzido pelo Conservatório de Nova York e Wagner, mergulhado em devaneios arqui-germânicos mas sem um tostão no bolso, aproveitou a onda e aceitou uma encomenda de patriotas da Filadélfia para prestigiar a Exposição do Centenário da Independência Americana. O resultado foi que na mostra de 1876 o público pôde ver novidades como a tocha da futura Estátua da Liberdade, conhecer avanços tecnológicos como o telefone e a máquina de escrever e, de brinde, ouvir a Marcha escrita pelo semideus de Beyreuth. A peça - não muito excitante, vale dizer - é contemporânea de Parsifal e, ao que tudo indica, saiu ao gosto do cliente. 
          Bastante eclética, a Abertura Polonia é ainda obra da mocidade do compositor. Já Rule Britannia expõe logo nos primeiros compassos todo o seu conteúdo, desenvolvendo-se por variações de efeitos diversos que decepcionam numa resolução interminável. Kaisermarsch, por outro lado, recebeu instrumentação mais homogênea, com metais equilibrados às cordas e madeiras. Essa belíssima Abertura que marcou presença no repertório das orquestras durante décadas, caiu infelizmente no esquecimento. Ficou feia. Não é mais executada em nossos dias para evitar que almas sensíveis reexperimentem a derrota Francesa de 1871, o desfile de Bismarck sobre a cidade-luz, e associem tudo com a empáfia nacional-socialista de Hitler, sete décadas depois. Uma pena. Dizem que Wagner a escreveu para se vingar da má recepção de suas obras pelo público francês. Verdade ou não, arte é arte e a criação saiu da pena de um dos maiores músicos da história.
          Apesar de favorecidas por uma boa interpretação, as peças têm brilho heterogêneo. O grande número de instrumentistas corresponde bem à imponência das obras e a escassez de outros registros contribui para tornar o cd mais atraente.

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