sexta-feira, 7 de maio de 2010

A Música Oculta da Última Ceia

A Música Oculta
Giovanni Maria Pala
Ed. Larousse

     O título já diz a que veio. Num belo dia Giovanni Maria Pala, um músico italiano na faixa dos 40, escuta a notícia da existência de notações musicais ocultas na Última Ceia, de Leonardo. Frustrado com a falta de continuidade das pesquisas, decide então levar adiante uma investigação independente, contando apenas com recursos próprios e o conhecimento de amigos. As primeiras descobertas alimentam seu entusiasmo e após três anos de trabalho, revela-se ao mundo um segredo guardado por 500 anos.
          Os fatos são reais. Giovanni Maria Pala existe mesmo e o livro traz partituras, além de vir acompanhado por um cd que atesta suas descobertas. O início da investigação, como não poderia deixar de ser, partiu da escrita reversa de Leonardo. Das dobras da toalha representadas na pintura, da posição dos pães, mãos e até dos gestos do apóstolo André surgiram aos poucos notas, acordes e compassos da notação musical.
          Longe das conclusões absurdas, a leitura do livro afasta o autor de qualquer semelhança com lunáticos ou teóricos da conspiração. Os argumentos são na maior parte embasados pelos elementos da própria obra e linguagem numérica simbólica empregada por Leonardo no agrupamento dos personagens. Sem apelar a interpretações herméticas, G.M. Pala narra o desenrolar de sua pesquisa de maneira objetiva e aparentemente despretensiosa. O problema, no entanto, está nos últimos capítulos do trabalho, onde após demonstrar a validez da tese, propõe uma série de malabarismos pouco convincentes para dar sentido a sinais interpretados como provenientes do Hebraico.

          Um dos argumentos que pesam contra a teoria é o próprio resultado das pesquisas. Ainda que obedeçam a um simbolismo numérico, os sons extraídos da Última Ceia não revelam qualquer indício de criatividade, muito menos suscitam uma admiração digna do autor da Gioconda. E assim, respondidas as questões e estabelecida a nova maneira de se olhar a pintura, resta a velha dúvida : Será?
          A Última Ceia é daquelas obras cuja trajetória enche mais páginas de livros de curiosidades que de história da arte. Pintado para a Igreja de Santa Maria delle Grazie de Milão entre 1495 e 1498, o mural logo se deteriorou, especula-se, pela técnica inovadora empregada pelo artista ou pela umidade do terreno onde as fundações do templo foram fincadas. Destruída no séc XVII a golpes de marreta para a abertura de uma porta, sua parte inferior costuma ser banida das reproduções fotográficas. Sobrevivente dos bombardeios da Segunda Guerra e restaurada durante 20 anos pela incansável Giuseppina Brambilla, conta ainda com 2 irmãs menos nobres, cópias feitas por discípulos de Leonardo, atualmente na Inglaterra e Bélgica.

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