Para além do protagonismo temático, as figuras humanas revelam-se, muitas vezes, a causa mesma das cenas. Geralmente sob estímulo psicológico ou emocional, estão empenhadas em danças, encontros ou situações propícias à manifestação de forças interiores. Quando não estão representadas na totalidade, suas partes extravasam essa energia - notadamente mãos, rostos e também pernas, que se abrem para o nascimento. Por toda a composição reverbera o estado de espírito dos personagens, revelando o teor expressionista das obras.
No aspecto formal, as figuras femininas contribuem sobremaneira para a fluidez do conjunto, seja pelos vestidos esvoaçantes, seja pelos cabelos que, longos, relacionam-se à variedade de elementos ondulantes da composição. Frequentemente, aparecem cercadas de bocas e olhos, o que provoca estranhamento pela sensação de ruptura em nossa relação com a obra enquanto objeto. O observador torna-se, também ele, observado.
Os desenhos de Chrystian Peixoto demonstram a todo instante que, ao contrário do que propagam certas ortodoxias recorrentes, o figurativismo não se restringe à repetição do consensual e do visível. Ao deixar de lado prejulgamentos morais e predeterminações da cultura, verdadeiros condicionadores criativos, o artista torna-se livre para explorar qualquer tema: abre-se para experiências interiores, inventivas e imaginativas; deixa-se levar por fantasias, sonhos e desejos para além da realidade material. Numa valoração particular, Chrystian oferece uma reinterpretação dos elementos de seu próprio cotidiano, seguindo, assim, uma lógica subjetiva, desvelando polissemias e novos símbolos, desenvolvidos a partir dos já conhecidos.
Ao fruidor, cabe abertura de espírito; cabe uma disposição favorável ao estabelecimento das relações e associações apresentadas pelo artista, que são muitas vezes surpreendentes. Seria um equívoco a busca de prescrições nessas obras, tanto quanto sua consideração desde pontos de vista meramente sociológicos ou antropológicos pelo fato de abordarem elementos de determinado meio cultural e geográfico. O conceito de regionalismo aqui deve prescindir de qualquer noção centralizadora, assentando-se, em vez disso, numa concepção plural e abrangente da experiência humana. A arte é, em essência, universal. Suas manifestações são metonímias: apontam para um todo, através de suas partes.
Os desenhos de Chrystian revelam um mundo fantástico, tantas vezes mais verdadeiro que o racional - um mundo criado pelo artista a partir de si, de suas vivências, circunstâncias e de um sensível imaginário.
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