sexta-feira, 7 de maio de 2010

Carlos Gomes, Pablo Moncayo, Villa-Lobos e Ginastera

Carlos Gomes, Pablo Moncayo, Villa-Lobos e Ginastera
Royal Philharmonic Orchestra
Enrique Arturo Diemecke


     O mercado fonográfico dispõe de um vasto acervo de títulos com a Royal Philharmonic Orchestra que abrangem repertórios os mais variados. Resultado direto da distribuição por empresas locais, o baixo preço desses discos atrai um público bastante amplo e concorre para sua preferência na escolha entre outras gravações. De Beethoven a John Tavener, de Shostakovich a Michael Nymann, passando por temas de westerns e concertos de fim-de-ano, a seleção aparentemente sem critérios revela-se aos poucos uma inteligente estratégia de ocupação de prateleiras baseada na velha política de boa vizinhança.
          O público familiarizado com o estilo da RPO sabe mais ou menos o que irá encontrar num desses Cds. A interpretação será provavelmente comedida e harmoniosa, sem grandes arroubos ou entusiasmo. A gravação também será de boa qualidade e o encarte oferecerá as informações básicas para a audição. A satisfação está garantida, mas ainda assim o título dificilmente chegará a ser o favorito da discoteca. Por que?
          Neste volume dedicado a Carlos Gomes, Pablo Moncayo, Villa-Lobos e Ginastera a relutância da orquestra pelo equilíbrio do conjunto sonoro invalida qualquer pretensão à autenticidade dos compositores e origina leituras guiadas muitas vezes por um espírito contrário à natureza das obras. As cores, texturas e acentuações características de cada partitura aparecem relegadas a um plano secundário, tratadas homogeneamente, como se os autores pretendessem uma mesma linguagem. Na Abertura de O Guarany, de Carlos Gomes, o caráter hesitante poderia dar mais lugar à ousadia. A veia italiana está bem representada; a brasileira, ou o pouco que dela existe, nem tanto. Falta vigor à interpretação que, mesmo legítima nos momentos de clímax, deixa a desejar nas transições temáticas.
          Após uma introdução promissora, o andamento escolhido para Huapango, do mexicano José Pablo Moncayo Garcia, resulta em um minuto de prolongamentos desnecessários. A leitura, por outro lado, não peca pelo excesso de tropicalismos nem abusa dos efeitos estridentes comuns às orquestras latinas, abrindo espaço para abordagens mais apuradas da matéria musical.
          A versão apresentada para as Bachianas N.2 de Villa-Lobos não entusiasma nem mesmo pela expectativa de se encontrar no Trenzinho do Caipira algum momento de inspiração brasileira. Ainda que no segundo movimento, Canto da Nossa Terra, a orquestra demonstre grande inspiração, o que se ouve no decorrer da obra são apenas sugestões que dão uma vaga idéia da interpretação merecida. Já nas Variações Concertantes de Alberto Ginastera a rica exploração de timbres foi favorecida pelo caráter universal da peça, que a diferencia em tudo das demais apresentadas na gravação.

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