sexta-feira, 7 de maio de 2010

Karajan - Adágio de Albinoni, Canon de Pachelbel etc.


     O que chama a atenção num disco de Karajan com peças barrocas é sua enorme capacidade de despertar reações pouco equilibradas em alguns críticos. Entre ofensas e palavras de puro escárnio pretensas autoridades em música antiga apontam nesses registros a falta de autenticidade estilística e incoerências que numa série de projeções alucinadas reduzem toda a carreira do regente austríaco a um tremendo equívoco. O interessante é que o público sempre ignorou solenemente essas questões correndo às lojas a cada novo lançamento e o legado de Karajan ultrapassou os 200 milhões de exemplares vendidos.
          Antes de qualquer julgamento sobre a autenticidade de interpretação desse cd é preciso estabelecer que o Adagio de Albinoni é uma peça escrita no século XX pelo pesquisador Remo Giazotto, baseada em poucos compassos de uma sonata do compositor barroco. Trata-se portanto de uma criação moderna cuja execução jamais deverá ser submetida a critérios do estilo antigo. O mesmo se aplica à reinstrumentação do Canon de Pachelbel. Embora tenham uma aparência barroca, ambas as peças enquadram-se no Romantismo tardio e por esse critério devem ser interpretadas.
          A leitura escolhida para La Notte Op. 10 de Vivaldi é a de uma interessante abordagem temática. Solista e orquestra acompanham-se durante toda a obra sem que um jamais predomine sobre o outro. A sugestão de algo oculto persiste até os últimos compassos reforçada pela aura de mistério em tonalidades menores e pelos títulos evocativos dados pelo compositor aos movimentos.
          A interpretação da Dança dos espíritos Abençoados de Gluck transborda em sentimentalismos, mas vale lembrar que esse também tem sido o sentido das leituras para a transcrição de Giovanni Sgambatti. O ponto fraco do cd é a escolha da Serenata K 239 de Mozart como obra de encerramento. Além de destoar de toda a seleção anterior, a interpretação não explora nenhum dos gracejos da partitura e o resultado soa extremamente apático. A comparação com interpretações de conjuntos de música antiga é inevitável. As versões da Academy of Ancient Music gravadas na mesma época são até hoje uma referência válida.

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