sexta-feira, 7 de maio de 2010

Villa-Lobos - A Prole do Bebê

Piano : Sergio Monteiro


     Se uma comparação for estabelecida com os prelúdios de Debussy - e não há ufanismo que afaste essa possibilidade - o primeiro volume da Prole do Bebê corresponderá às peças mais delicadas e sonhadoras do compositor francês. Voiles e La fille aux chevaux de lin seriam Branquinha, Mulatinha e Pobrezinha. Do segundo Volume, O camundongo de massa, O passarinho de pano e O lobozinho de Vidro equivaleriam às criações mais ousadas, como Le vent dans la plaine, Feux d'Artifice e Danseuses de Delphes.
          É claro que uma associação dessas não deve ser levada ao pé da letra nem Villa-Lobos pretendia simplesmente reproduzir o estilo de Debussy. Procurava, antes de mais nada, estabelecer uma ligação entre a temática brasileira e a linguagem universal de sua época, ligação que seria elaborada e consolidada no rico universo de referências do ciclo de Choros.
          A contribuição de Arthur Rubinstein foi fundamental para que a validez de A Prole do Bebê fosse demonstrada. O conjunto era frequentemente executado em seus concertos e, em retribuição à amizade que ultrapassava fronteiras musicais, o pianista receberia a dedicatória de peças importantes como Rudepoema e do Choros n.11. A crítica brasileira, tão resistente ao compositor, deu assim o braço a torcer e elogiou a estréia das peças, sendo acompanhada por uma opinião pública bastante dependente da aprovação estrangeira.
          O primeiro volume do conjunto é de 1918 e foi inspirado na delicadeza das bonecas femininas. O segundo, composto em 1921, abrange um universo de brincadeiras masculino, ríspido e agressivo. A interpretação de Sergio Monteiro se destaca por manter o foco no caráter impressionista das composições sem perder o que nelas há de brasileiro. Sua leitura estabelece as diferenças tanto de estilo quanto de matéria musical e reúne os elementos imprescindíveis para situar as peças no desenvolvimento da obra de Villa-Lobos.

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