sexta-feira, 7 de maio de 2010

Joseph Martin Kraus, um aristocrático




     Joseph Martin Kraus compôs obras de qualidade reconhecida por Gluck, Salieri e Haydn. Estabeleceu-se no círculo da corte sueca, da qual recebeu o patrocínio que lhe proporcionou atuar em diversas áreas culturais. Escreveu poesia, crítica de arte e travou contato com personalidades de seu tempo durante um longo período de viagens. Infelizmente parte de sua obra se perdeu, o que leva especialistas a constantes revisões na atribuição de peças a sua autoria.
          A música de Kraus soa familiar mesmo sem a presença de temas marcantes. Sua obra camerística, principalmente as canções, conserva ares modestos, de uma idealização quase pastoril. Já sua criação sinfônica aproxima-se à de Haydn, sempre elegante, de instrumentação caprichada e melodias atraentes. Escutar suas sinfonias é antes de mais nada travar contato com um espírito intelectual aristocrático, do qual não se deve esperar qualquer indício de genialidade. Por serem pouco divulgadas, essas composições tornam-se uma descoberta interessantíssima para quem busca acrescentar nomes ao repertório neoclássico e hesita em escolher autores excluídos das salas de concerto.
          Antes de partir para a Suécia Kraus participou de um círculo de escritores que exploravam a temática bucólica da vida no campo. Esses intelectuais idealizavam em versos simples aspectos do cotidiano e nutriam uma percepção bastante singela da natureza humana. Explorando narrativas de amores da juventude e evocações de paisagens pastoris, deixavam de lado o culto à Antiguidade e suas formulações complexas ao preferirem abordar aspectos mais espontâneos do cotidiano.
          A maior parte dos textos utilizados nas canções de Kraus é de autoria do poeta Matthias Claudius. Os versos são absolutamente inusitados, com diálogos entre galinhas sobre a postura de ovos, casais que fazem pedidos à chuva e até mesmo observações de uma mãe sobre o nariz do filho. Para evitar incursões em terreno menos nobre da arte musical, o compositor emprega um acompanhamento pianístico em concordância com o texto e recorre a articulações fáceis, que remetem ao universo popular dos personagens e narradores.
          O contraste entre essas canções de caráter singelo e sua sofisticada obra sinfônica posterior é muito marcante. A mudança para a corte sueca representou a superação de uma fase camerística em alguns aspectos fecunda, mas de pouco vulto diante das possibilidades exploradas mais tarde pelo compositor. Ainda assim suas canções merecem reconhecimento por serem representativas de uma corrente típica do século XVIII.
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