sexta-feira, 7 de maio de 2010

Villa-Lobos : Choros Nos 8 e 9


Orquestra Filarmônica de Hong Kong
Regente : Kennett Schermerhorn


     Dois Choros de Villa-Lobos pela Orquestra Filarmônica de Hong Kong. O regente, um norte-americano; a gravadora, de um alemão. Data do registro: 1985, incluindo um fatídico primeiro de Abril.
          Muito se discute sobre a familiaridade dos instrumentistas brasileiros com a interpretação das obras nacionais e sua desenvoltura para lidar com obstáculos supostamente intransponíveis ao músico estrangeiro. Alguns argumentos propõem, por exemplo, que por também partilhar do universo cultural europeu o intérprete brasileiro estaria igualmente propenso à excelência na música européia, enquanto o europeu, norte-americano ou oriental, por não partilhar dos elementos constituintes do universo brasileiro, deveria ser julgado num patamar diferenciado. Os "deixa-disso" respondem com o jargão de sempre: A música é uma linguagem universal, assimilável por todos os povos. E comprovam a teoria com a relação das contribuições à cultura nacional feitas por artistas e intelectuais imigrantes do pós-Guerra.
          O interessante nesse cd é a conquista gradual das obras pelos intérpretes. No Choros N.8 a leitura titubeante das primeiras seções dá lugar a uma renovação de vigor inesperada com a entrada do piano em seus registros graves, acompanhado pela forte percussão. Já no Choros N.9 tudo se encaixa bem desde a explosiva frase inicial. Pode-se questionar o equilíbrio nas dinâmicas de certas passagens, que está confuso. Pode-se argumentar também com a autoridade dos recentes lançamentos da OSESP frente a esse registro. O resultado, no entanto, está longe de decepcionar.
          Ao reunir músicos, produtores e regente de diversas origens, a própria gravação desse cd refletiu a atmosfera miscigenada tão cara à obra de Villa-Lobos. Alguém já tinha visto chinês empunhar cuíca e reco-reco?

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