sexta-feira, 12 de junho de 2015

A Casa de Pedras

A última casa residencial da Av. Atlântica
foto: Jornal Copacabana
Publicado no Jornal Copacabana


O funcionário abriu o portão e vi que era verdade. A casa de pedras da Av. Atlântica havia sido demolida. Dava pena ver os escombros. Parte do interior ainda estava de pé, exposta aos curiosos que rodeavam a entrada. Todos comentavam o fato. Falavam de valores, do projeto de um luxuoso hotel e da incorporadora que levaria a obra adiante.

Para mim aqueles assuntos pouco interessaram, porque naquele instante lembrei que quando era criança e voltava da praia com minha mãe sempre passávamos ali em frente. Inventávamos histórias sobre os moradores, sobre novelas e filmes gravados nos jardins, e sobre um salão repleto de objetos do Rio antigo. Era tudo fruto da nossa imaginação, é claro, mas como era gostoso acreditar por uns instantes que era verdade! A vida adquiria um encanto que só as crianças são capazes de experimentar.

A casa, como os anos me ensinaram, não tinha muita importância. Mesmo sendo a última residencial da orla e tendo o curioso revestimento de pedras, era desajeitada, quadrada, e destoava do conjunto. Mais cedo ou mais tarde seria demolida para dar lugar a um empreendimento lucrativo, conforme a ordem natural das coisas.

Na semana seguinte à demolição, vi sair do terreno um caminhão com entulho. Me aproximei e percebi que um solavanco havia derrubado na calçada alguma coisa que não pude acreditar. Aproveitei a distração do porteiro que cuidava da obra para pegar a pequena relíquia: o pedaço de uma das pedras da fachada. Eu precisava ter comigo um pouquinho daquela história que não era apenas dos antigos proprietários, mas também do bairro, também minha, da minha vida.

A pedra da casa de pedras está hoje sobre a mesa de minha sala, num lugar de destaque. As visitas sempre tiram fotos e gostam de ouvir o relato do episódio. Ter um pedacinho da história do bairro diante dos olhos mexe muito com a imaginação e faz a vida adquirir de novo, pelo menos por uns instantes...aquele encanto que só as crianças são capazes de experimentar.


3 comentários:

Unknown disse...

roberto, obrigada pelas suas palavras e pelo seu relato. a minha relação com a Casa era a mesma que a sua. E agora o vazío da demoição deixa um buraco na minha memoria e no meu coração. É como se a avénida atlântica deicase de ser Carioca

Elza Goulart disse...

Morei na Domingos Ferreira esquina da Figueiredo. Ali pertinho. Obrigada por lembrar.

Anônimo disse...

A casa pertencia a tia avó da minha mãe, fui lá algumas vezes… hoje me bateu curiosidade sobre esse assunto e vim pesquisar. Muito bacana ver que as pessoas ainda lembravam dela.