segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Um pintor em Copacabana

Favela, 1958
óleo sobre tela, 60x80 cm

Publicado originalmente no Jornal Copacabana, edição de Novembro de 2014

Como tantos brasileiros, ele fez da antiga capital seu lar. Na década de 1950, recém-chegado de Fortaleza, reclamava do Rio que às vezes de tão agitado se torna monótonoPouco depois, completamente apaixonado por nosso bairro, confessava: Eu gosto é dali!

O temperamento reservado não o afastava da convivência com o público nem do cultivo de amizades, que eram muitas. Morou na Rua Bolívar 129 e na Avenida Copacabana 1032. Expunha na galeria de arte do IBEU, além de inúmeras outras galerias e museus do Brasil e do mundo. A admiração angariada o levou também a ser tema de um curta-metragem.

Esse homem que um dia fincou raízes entre nós é Antonio Bandeira, um dos maiores pintores abstratos brasileiros, cuja obra volta aos poucos a receber o destaque merecido.

Bandeira veio aos 22 anos fazer a vida no Rio de Janeiro e com o talento logo conquistou apoio financeiro para estudar em Paris. Lá descobriu que não se adaptava ao ensino sistemático. Passou dificuldades. Procurou então artistas independentes como ele e, para o espanto de todos, deixou para trás o interesse pelos temas brasileiros, pela pintura de Portinari e Di Cavalcanti. Aderiu à abstração e participou, assim, da renovação de nossa arte.

De volta ao Brasil e respeitado como artista maduro, dividia o coração entre a cidade natal e o Rio. Fez capas para livros de Rubem Braga e também de Drummond, de quem recebeu a dedicatória de um poema. Associado ao florescimento cultural do país, era lembrado como expoente de uma nação jovem, moderna, que se abria para o mundo.

Essa é a pintura de Bandeira: de linguagem universal e atenta à sua época, modesta em tamanho e ousada em conteúdo, abstrata e aberta à imaginação de quem a contempla.

Com o Golpe de 64, o artista fez as malas. Desembarcou em Paris. Bem estabelecido e no auge da carreira, em 1967 achou que havia chegado a hora de operar os pólipos que tanto lhe atrapalhavam a fala. Uma reação à anestesia pôs fim a essa trajetória. A morte precoce aos 45 anos e as mudanças da arte deixaram sua fama em repouso, até que ressurgisse o interesse por sua obra.

Antonio Bandeira foi mais um ilustre morador de Copacabana, bairro lar da arte e cultura.