terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Verdades de fachada



Uma fachada esconde verdades às vezes inconfessáveis.

Edifícios envidraçados ou revestidos por placas metálicas se impõem como prismas na paisagem e atendem aos anseios por projetos de aparência futurista. São leves e de fácil montagem. Em vez de uma espessa parede de tijolos, recebem elementos pré-fabricados, aparafusados nas lajes dos andares. Em vez de operários para a execução de emboço e pintura, requerem técnicos e uma empresa fornecedora de maquinário próprio.

Não há segredo nisso.

Mas quando comparados a esses prismas, os edifícios de fachada com peitoris e janelas deslizantes oferecem enorme desvantagem devido a um terrível mal de que padece nossa cultura. Com o tempo, cada proprietário acaba responsável pela manutenção de suas esquadrias e as substitui por elementos de outras características. Nas janelas, pouco a pouco são instaladas películas de cores contrastantes e em diferentes lugares brotam aparelhos de ar condicionado, nas mais variadas dimensões e modelos. Administradores de condomínios tentam pôr ordem nas coisas. Cobrem os equipamentos com caixas uniformes e estabelecem uma prumada a ser obedecida por todos, mas raramente conseguem evitar o descumprimento da norma.

Ao conceberem um edifício, arquitetos devem considerar as dificuldades em que esbarrarão os responsáveis por sua manutenção. Devem prever o pensamento que os usuários terão ao se depararem com escolhas a serem tomadas diante da necessidade de uma intervenção. Devem ter em mente que entre a preservação de seu projeto e uma alternativa de menor custo, o dinheiro e o desconhecimento falarão mais alto.

Apesar de criticados pelo excesso de simplicidade, prédios com sistema de refrigeração central e fachadas vedadas mantêm-se íntegros, ao passo que, com o tempo, os demais sofrem descaracterizações que lhes conferem mau aspecto.

Empresas sofrem avaliações subjetivas. Clientes as associam ao edifício onde estão instaladas, mas edifícios são, na realidade, produto dos valores em voga na sociedade, principalmente nas marcas nele deixadas por seus ocupantes. As concepções do proprietário de um escritório sobre o que seja uma obra arquitetônica são diferentes das de seu vizinho e decisões de uma assembléia não passam a ser boas por terem sido tomadas pela maioria.

Arquitetos são bem sucedidos quando compreendem essa relação de conspirações cruzadas. E entram para a história quando provam que outra equação é possível.

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